Ela resolveu escrever
este texto quando a licença maternidade estava chegando ao fim, esse momento
que não é nada fácil, serviu de inspiração para essa obra linda.
“Recordo-me, quando pequena, olhando
meu próprio umbigo e me perguntando: "Pra que serve o umbigo? Por que
temos o umbigo?” Indagações de criança que, à medida que fui crescendo, não
mais me intrigaram. E o umbigo tornou-se simplesmente um mero coadjuvante. A
correria do dia a dia, os afazeres da vida moderna deixaram aquelas perguntas
órfãs de suas respostas. Não havia problema algum, pois pra que mesmo servia o
umbigo??? Pra nada!!!
Trinta
e cinco anos se passaram do dia em que aquela cicatriz já tinha deixado de ser
preocupação de minha mãe, quando me deparei esperando aquele que seria o meu
príncipe encantadinho, meu tesouro, minha ligação eterna com quem escolhi para
ser meu parceiro. Aos 12 dias de fevereiro de 2013, estávamos a, provavelmente
40 mil pés de altitude (12 mil metros), fazendo nossa primeira viagem para os Estados
Unidos, quando descobrimos que uma vidinha estava pulsando dentro de mim. É...
Fiz o teste de gravidez, aquele de farmácia, em pleno voo para Miami!!!
História para ser contada em toda reunião de mães e assuntos afins!
Nasceu, então, a ligação eterna que jamais haverá de se romper e aí surgiu a pergunta que não alcanço solução: Quantos cordões umbilicais nós temos?
Aquele que foi seu primeiro brinquedo, mesmo que não tivesse noção do que era um brinquedo, com 16 semanas, meu bebê deve tê-lo descoberto: o cordão umbilical, puxando-o e segurando-o para se divertir, ao ponto até mesmo de apertá-lo e reduzir a quantidade de oxigênio que passava por ele, mas não o suficiente para se prejudicar.
Do Latim, Funiculus umbilicalis, este longo cordão que liga a mãe ao filho, a placenta ao embrião, garante os nutrientes, é responsável pela troca gasosa e, principalmente, pela fusão indissolúvel da qual quero falar mas, talvez, nunca consiga verdadeiramente traduzir em palavras.
Então, 39 semanas se passaram de gestação e, após inúmeras descobertas desta fase única da vida, pois cada gestação é única, eis que cortamos NOSSO PRIMEIRO CORDÃO UMBILICAL!!! E ainda guardo-o com carinho o toquinho que permaneceu em meu pequeno por mais 23 dias! De tantas preocupações que tem uma mãe, esta me foi uma, pois aquilo que deveria cair entre o sétimo e décimo dia, só veio a se desligar de meu príncipe ao vigésimo terceiro dia!!! Mais uma conquista a ser festejada!!!
É,... No dia 09 de outubro de 2013 cortamos nosso primeiro cordão umbilical e, ninguém havia me dito que eram tantos quantos eu não saberia contar. A primeira noite a gente nunca esquece: minha mãe conta que não dormi, pois olhava e tentava ouvir sua respiração. Bem haviam me dito que nunca mais dormiria como antes.
Em casa, nosso bebê dormia no moisés do lado da nossa cama e, dia a dia, a cada consulta no pediatra, o que era uma alegria vê-lo progredir no medidor de altura, culminava-o em perder seu bercinho aconchegante. Logo, logo, o moisés foi ficando pequeno e desconfortável. Descobri então o segundo cordão umbilical a ser cortado. Aposentamos o moisés e colocamos nosso pequeno príncipe no berço pela primeira vez, com direito a foto no facebook e uma bela noite em claro para mamãe! Confesso que tentei uma semana. Meu bebê dormiu muito bem todas as noites mas, eu não dormi NADA. Foi assim que optei pela cama compartilhada. Li bastante sobre o assunto.
"Não existem regras nem normas quando o assunto é dormir, comer, passear e tudo mais que diz respeito à vida de uma família. Cada família precisa encontrar o que é melhor para si, sem se deixar impressionar pelo alarmismo e, principalmente, ouvindo seu coração e seguindo aquilo que a deixa mais unida, coesa e tranquila. Todo mundo fala que é a mãe quem leva o filho pra dormir junto, mas não é bem assim... Conheço muitos casais cuja decisão de dormir junto com o filho partiu do pai. Já vi pais pensando em como mudar a estrutura do quarto para não ter que se separar do bebê e, ainda assim, todos dormirem bem.” [i] E aqui foi assim! O papai da casa sempre organiza tudo para que todos possamos dormir bem! Mais um dos infinitos motivos de amá-lo imensamente.
E a contagem não parou aqui. A quantidade de cortes a se fazer nem bem começou! A primeira vez que tive de me desligar fisicamente do meu bebê por mais de cinco metros, foi o terceiro cordão a se romper. Esse foi mais fácil. Dei uma saidinha só para buscar o maridão no serviço, e o príncipe ficou dormindo no colinho da vovó. Dez minutos, no máximo, se passaram e, lá estava ele no mesmo soninho angelical em que deixei, como se o tempo tivesse parado de contar, só para eu ir buscar o marido.
Não posso relatar com a mesma precisão o cordão cortado que muitas mães vivenciam ao ter de se hospitalizar ou hospitalizar sua própria cria. "O efeito mais nocivo da hospitalização para uma criança é a privação da mãe. Isto pode levá-la ao hospitalismo, ou seja, alterações regressivas, atraso no desenvolvimento, perda de peso, baixa resistência e infecções, perda de contato com o meio, deterioração progressiva e morte.” [ii] Este tipo de corte do cordão umbilical, rezo a Deus que nunca tenha que vivenciar!
Então, os dias vão se aproximando do dia em que eu nunca quisesse me achegar! Mas como querer ver crescer, engatinhar, andar, tornar-se um homem e não querer ver o que impulsiona tudo isso: o romper do cordão é que o liberta para o mundo! Eis o paradoxo em que vive uma mãe! Bem me avisaram que só sendo mãe saberia eu sobre tantas coisas,... Sendo mãe, aqui estou e, não consigo saber uma delas: Quantos cordões umbilicais nós temos? Enrolar para dizer sobre este dia, é como se eu pudesse driblar o próprio tempo, e esse dia então, não chegasse jamais.
O que para umas mães vem mais cedo, com 120 dias, para outras mais venturosas e, graças a Deus, me enquadro neste grupo, esta data se posterga para 180 mais 30 dias. E como o tempo voa!!! Disto também me avisaram, mas só agora tomo consciência da velocidade do tempo. Para os que estão de fora, pode até ter demorado seeeeeeete meses, mas para mim e para o meu pimpolho, foi ontem que cortamos nosso primeiro cordãozinho!!!
Voltar ao trabalho está sendo para mim uma contagem tétrica, como o próprio nome diz! Um romper a conta-gotas! Como cortar longas madeixas com uma tesoura cega; cortar lenha com facão e não machado. O processo do romper é lento e torturante!
Pois bem! O dia chegará! Sei que meu pequeno filhote ficará em boas mãos! Nenhuma melhor haveria, senão aquela que ama incondicional em dobro o meu bebê: a vovó!!! Mas então... Eis que há de se partir o ésimo cordão umbilical. Pois aqui, me nego contar quantas vezes ainda suceder-me-ei de sofrer.
Tenho lido bastante, para achar-me normal, costumária, habitual, trivial. Entre versos e prosas, descobri que um dia ele irá para a escola. Um dia, ele não mais usará fralda e sozinho, sem mim, irá ao banheiro. Um dia, tomará de mim a colher, trocará por garfo e faca e nem mesmo pedirá pra cortar a carne. Um dia,... Um dia, chegará em casa contando daquela menininha e eu não mais serei a única mulher da sua vida. Um dia, sairá sozinho pela primeira vez, e meu coração de mãe ficará partido. Um dia, esse dia serão noites e me lembrarei das noites bem dormidas que tive ao seu lado enquanto bebê. Sim, porque noites mal dormidas serão as que não terei meu neném debaixo de minha própria saia. Um dia viajará sozinho. E um dia,... levar-lo-ei ao altar e, chorarei como minha mãe três vezes chorou ao ver seus filhos saindo de casa e formando sua própria família, para que aqui estivesse eu contando de mim e de meu herdeiro.
Não obstante a tudo isso, ver cortar todos esses cordões me faz uma mulher exultante! Pois a cada sofrimento do romper, brilha em mim a euforia do deleite maternal. Amar a tudo isso e suportar as cicatrizes dos ésimos cordões, é a benesse mais pura que nos pode ser ofertado!!! E ao findar este monólogo, eis que me apaziguo sem mais dúvidas me causarem. Só cabe a mim agradecer pelo corte não ser único e traumático mas inúmeros e amenizadores.
Obrigada Meu Pai Celestial pelo tesouro que o Senhor me presenteou!
Obrigada Mãe e Pai por me amarem mais que a si mesmos! Hoje reconheço o que é isso!
Obrigada meu Príncipe Encantado, meu parceiro, meu cúmplice, companheiro consorte, meu enamorado amigo. A ti estarei ligada eternamente, e por isso é que eu canto e me encanto!
E não poderia deixar de agradecer minha Filhinha de Coração que, apesar de nunca termos tido um cordão que nos ligássemos fisicamente, nossas almas sempre tiveram unidas por um laço de amor. Obrigada Vidinha por me dar os primeiros passos do amor de mãe.
E a você, meu Pequeno Principezinho, obrigada por me ensinar que de todos os cordões umbilicais que cortamos e haveremos de cortar, nenhum verdadeiramente se romperá, pois você sou eu em gotinha regando o mundo, como a água que vai e vem num ciclo eterno e sempre ao mar retorna.”
[i] Cama compartilhada: por que é bom e seguro? Disponível em: HTTP://http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/03/cama-compartilhada-por-que-e-bom-e.html > Acesso em 10 de abril de 2014.
[ii] Sentimentos
das Mães durante Hospitalização dos Filhos: Estudo Qualitativo. Disponível em:
< http://www.sobep.org.br/revista/component/zine/article/126-sentimentos-das-mes-durante-hospitalizao-dos-filhos-estudo-qualitativo.html> Acesso em 01 de maio de 2014.
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